OS INDEPENDENTES ATACAM DE NOVO: Apresentada no Casino da Figueira a banda CASINO ROYAL já entrou na vizinha Espanha e traz, a ouvidos atentos e multigeracionais, intramuros, sonoridades coevas dos leitores da francesa, mas mundializada revista SALUT LES COPAINS – essa! A de Jonhnyy Haliday, de Sylvie Vartan e de François Hardy. Sons espraiados pela Riviera francesa, tchim- tchim a la santé, de costas voltadas aos sons de intervenção política e social oriundos da Bélgica e de Jacques Brel. Geração Hi-Fi, transistor e pick-up, da pilha e da pílula com esta a incubar a emancipação feminina. E no feminino a mini-saia a subir e os discos dos Beatles de Liverpool a irradiarem da Radio Caroline, barco-estúdio-emissor a sulcar águas internacionais e a ancorar no vazio da legislação para emitir os tops e os futuros. Make Love Not War. Factos da História reinterpretados agora pelas teclas e máquinas acústicas de PEDRO JANELA à janela de uma contemporaneidade que se faz de mutação em mutação até ao improvável final…a um CAOS por reequacionar. PEDRO JANELA e a Banda CASINO ROYAL antecipam-se ao fragmentar dos públicos e (DES)constroem os anos sixties and seventies e projectam um reestilo Nouvelle Vague através de músicas desenhadas a partir de figurinos daquele período áureo e com aura. Lúdicos, mas sempre lúcidos num acto criativo de alguma entropia a apelar por isso a descodificações inteligentes e acutilantes. Os CASINO ROYAL desafiam a modorrice de uma falsa intelectualidade portuguesa que diz saber ouvir música; desafiam memórias ao construir onze temas armados no jogo de sedução e sofisticação bélica Jamesbondiana e dos filmes Z.
O olhar da sensual Diva holyoodesca Marisa Mena é de olhos-nos-olhos e cria comunicação, empatia; e é proporcional à tessitura da sua vocalização glamourosa, fashion, certinha. Uma voz de singular vibração liberta de clichés e de pós-nacionais cançonetismos e com um pós-modernismo dejá vu. Canta fora do português-padrão e do cliché, mas reveste-se de um veludo vermelho a cheirar a vinho tinto e a fado de taberna. Afinal os portugueses foram os mulherengos, os marialvas de pele morena dos anos sessenta que levaram ao clímax alvas nórdicas e francesas castas e castradas na feminilidade por colégios bafientos que rumavam a Portugal. Adoradoras do Sol? É o que perguntamos a um Fernando Namora já mudo, mas sempre vivo. Há imperdíveis desenhos sonoros encaixados nestas músicas que narram histórias da História e levam à visualização retroactiva desses tempos do Ai Que Saudades, Ai, Ai. Coabitam instrumentos em derivas de êxtase e de descapotáveis com cabelos e óculos escuros ao vento, beata na boca, brilhantina na cabeça, cuspo e sebo na botifarra. Aquele olhar de matador, martinis engolidos a queimar bocas e a incendiar ardores por signo-sinal com a gravata fálica de nó fininho. No CASINO ROYAL não há uma única música para trautear após uma primeira escuta porque são músicas argutas e enxutas. São discursos quase épicos, hermenêuticos em primeira leitura, desmontados/preparados para exigir uma segunda leitura-audição e depois...depois... o gozo e o privilégio deste som superior de um grupo português que vai ser marca e charneira na conceptualidade da música que se faz em Portugal, como se fosse um Grupo de pesquisa de uma música concreta não concreta, de research, mas absorvível em emoções e por gerações - a reclamar background a quem a escuta. É preciso voltar a ouvir para depois (saber) ouvir por dentro a linguagem inovadora/criadora de PEDRO JANELA, o pilar do projecto, o musicólogo formado nos bancos da Universidade de Aveiro e a herdar a vocação de um AVÔ – HORÁCIO DIAS DE ABREU – talento de manufactocriador de instrumentos e de harmoniuns sons novos. MAGNIFICUS. Soberbo a reparar órgãos de tubos e foles. PEDRO está à janela do talento do Avô Horácio e tocou-lhe em Glória e em harmonium a Missa Magnificus, umbilical homenagem sentida e para sentidos despertos mesmo que profanamente assistida. Comunga-lhe da vocação e é explosão de dinamismo. E neste Projecto Discográfico PEDRO JANELA é produtor, compositore e teclista, além de editor digital do produto salpicado por uma panóplia de equipamento vintage do seu estúdio da MASTERMIX na patrimonial TENTÚGAL, vila medieva...a servir pipocas em pacotes mcdonaldizados. Apelo a uma autoprogramação e ao random para tweenies anti-estandardização, para executivos abertos aos players que surgem em remoinho no mercado do som, da imagem, da música e do inforentretenimento.
Depois de escutarmos e entrarmos no CASINO ROYAL só nos resta ficar até à última ficha...e fixar para a Eternidade um som só efémero porque comercializável. Seguramente indispensável num BOM CATÁLOGO DA DISCOGRAFIA LUSA e a rir-se das play-listas (constante monopolaridade) em tom irónico, como se assistisse a uma farsa vicentina. Não era ainda o Renascimento - recuperação de modelos greco - latinos? Seria a parte inferior da milenar época medieva? Tão medieva como Tentúgal - sede da inovadora MASTERMIX - onde há sabores conventuais dulcíssimos e um património incomum. Era o arranque do Teatro português. Chamou-se GIL VICENTE e entrou no quarto da recém-parturiente Rainha ROYAL com o Auto da Visitação. Este SOM entrou no CASINO sob spotlights de intensa projecção. Agora o nado é o arranque da Música Ligeira Vanguardista tanto europeia como portuguesa com unidade nas diversidades. Oiçam, no mínimo, duas vezes, e depois fixem e fixem-se nos CASINO ROYAL. Ganhámos a aposta. O croupier paga. CASINO ROYAL é o melhor projecto que escuto neste 2009. Alguém falou em crise? Crise de quê? Não de talentos porque esta é uma banda portuguesa.
Disse.
Sansão Coelho
Realizador da RTP - Rádio e Televisão de Portugal
Coimbra
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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